Sarcopenia: abordagem nutricional

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O processo de envelhecimento pode contribuir para a redução da ingestão alimentar, gerando queda no aporte proteico e calórico, associado a modificações no padrão alimentar, o que possibilita o declínio da massa muscular e a instalação da sarcopenia. Dessa forma, é importante realizar uma avaliação dietética abrangente do paciente para identificar precocemente as possíveis deficiências nutricionais.1 

 

Referência

1.Morley JE, Argiles JM, Evans WJ et al. Nutritional recommendations for the management of sarcopenia. J Am Med Dir Assoc. 2010;11(6):391-396.  

Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), publicada em 20202, no Brasil, apenas 38% dos idosos consomem frequentemente alimentos proteicos. Além disso, a prevalência de baixo consumo proteico alcança 21,5%, 46,7% ou 70,8% quando o ponto de corte adotado é 0,8 g/kg/dia, 1,0 g/kg/dia ou 1,2 g/kg/dia, respectivamente.3 

 

Recomendação diária de proteínas X sarcopenia 

A recomendação diária de consumo proteico para um idoso saudável com o objetivo de evitar a sarcopenia varia de 1,0 e 1,2 g/kg/dia. Já nos casos de tratamento da doença, recomenda-se o consumo de 1,2 a 1,5 g/kg/dia.4,5 Dependendo da condição clínica, esse valor pode ser ajustado.  

No entanto, não é apenas a quantidade que impacta nos resultados. Tanto na prevenção quanto no tratamento, outro ponto fundamental é a distribuição diária do consumo proteico. A recomendação é que se alcance 25 a 30 gramas em cada uma das três principais refeições.4 

Além disso, para garantir um melhor aproveitamento proteico, bem como o anabolismo muscular, é fundamental realizar um adequado consumo calórico. Idosos com peso adequado devem consumir 30 kcal/kg/dia, enquanto para aqueles com baixo peso recomenda-se um consumo de 32 a 38 kcal/kg/dia.5 Em contrapartida, para idosos com IMC acima de 30 kg/m2 a orientação é de perda de meio quilo por semana, com o objetivo de atingir de 8 a 10% da perda do peso corporal em 6 meses.6 

 

Suplementação nutricional, eficácia comprovada 

Indica-se a suplementação nutricional nos casos em que a ingestão calórica é menor que 70% das necessidades diárias. Para idosos desnutridos ou em risco de desnutrição, deve-se fornecer, pelo menos, 400 kcal/dia, incluindo 30 g ou mais de proteína diariamente.5 

Uma recente metanálise comparou a associação de suplementação nutricional oral e exercícios resistidos versus somente exercícios resistidos, somente suplementação ou nenhuma intervenção, e constatou que os indivíduos que realizaram exercício resistido e suplementação nutricional oral apresentaram melhora na massa magra total, na massa muscular esquelética apendicular (MMEA), na força de membros inferiores e na deambulação quando comparados aos que utilizaram placebo como suplemento, realizaram somente suplementação, realizaram somente exercício ou não realizaram nenhuma intervenção. Além disso, um dos achados mais importantes da metanálise demonstrou que, para a melhora significativa da massa muscular total e da MMEA, foi necessário realizar a suplementação por mais de três meses juntamente aos exercícios resistidos.7 

 

Saiba mais 

Na videoaula, a nutricionista Mara Aquimara, uma das autoras do guia prático Recomendações para diagnóstico e tratamento da sarcopenia, aborda essa temática tão importante, trazendo mais detalhes sobre o aporte nutricional na sarcopenia na prática clínica. Assista ao vídeo e saiba mais! 

 

 

Maria Aquimara Zambone Magalhães 

Nutricionista. Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Especialista em Nutrição em Gerontologia pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Mestre em Ciências pela FMUSP. Coordenadora do Programa de Residência em Nutrição Clínica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

 

 

Referências 

1.Morley JE, Argiles JM, Evans WJ et al. Nutritional recommendations for the management of sarcopenia. J Am Med Dir Assoc. 2010;11(6):391-396.  

2.Pesquisa de orçamentos familiares: 2017-2018: análise do consumo alimentar pessoal no Brasil/IBGE, Coordenação de Trabalho e Rendimento. 

3.Hengeveld LM, Boer JMA, Gaudreau P et al. Prevalence of protein intake below recommended in community-dwelling older adults: a meta-analysis across cohorts from the PROMISS consortium. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2020 Oct;11(5):1212-1222.  

4.Bauer J, Biolo G, Cederholm T et al. Evidence-based recommendations for optimal dietary protein intake in older people: A position paper from the PROT-AGE Study Group. J. Am. Med. Dir. Assoc. 2013;14:542–559.  

5.Volkert D, Beck AB, Cederholm T et al. ESPEN guideline on clinical nutrition and hydration in geriatrics, Clin Nutrition. 2019;38(1):10-47.  

6.Batsis JA, Villareal DT. Sarcopenic obesity in older adults: aetiology, epidemiology and treatment strategies. Nat Rev Endocrinol. 2018 Sep;14(9):513-537.  

7.Liao CD, Chen HC, Huang SW et al. The Role of Muscle Mass Gain Following Protein Supplementation Plus Exercise Therapy in Older Adults with Sarcopenia and Frailty Risks: A Systematic Review and Meta-Regression Analysis of Randomized Trials. Nutrients. 2019 Jul 25;11(8):1713.  

 

 

Conteúdo técnico-científico destinado a profissionais da saúde. Proibida a reprodução total e/ou parcial. Junho/2024. 

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